Durante muito tempo acreditou-se que o concreto armado era um material de construção com elevada vida útil e que dispensava manutenção. Contudo, atualmente é preocupante o percentual de estruturas apresentando manifestações patológicas e necessitando de reparos que poderiam ser evitados, se fossem tomados alguns cuidados principalmente durante as fases de projeto e construção. Sendo assim, a verificação e o controle da fissuração nas estruturas de concreto armado são de extrema importância, pois a fissuração consiste em um fenômeno que, em virtude da reduzida resistência à tração do concreto, ocorre em praticamente todas as peças.
São inúmeras as causas da fissuração e variam desde as tensões internas, geradas pela retração e pela variação de temperatura, até as ações externas, que geram deformações e, portanto tensões de tração nas estruturas. Dessa forma, solicitações de pequena intensidade são capazes produzir fissuras que, dependendo do grau de agressividade do meio ao qual a peça está exposta e da quantidade e tamanho das aberturas, podem promover condições para o desenvolvimento de outras manifestações patológicas, levar a um desgaste precoce da estrutura, incitar o processo de corrosão da armadura, ou até causar uma sensação de insegurança nos usuários, mesmo que a utilização da peça não esteja comprometida.
Por isso, mesmo não podendo ser evitada por completo, a fissuração pode ser minimizada e controlada, de modo que não cause problemas maiores à estrutura como um todo. Nesse contexto, observando as estruturas, o fenômeno em si, suas causas e consequências, órgãos internacionais de normalização e pesquisa, tais como a ABNT, o CEB, o ACI, a DAfStb e outros, procuram desenvolver fórmulas e técnicas de dimensionamento e aplicação que visam estabelecer parâmetros capazes de minimizar o problema e garantir maior durabilidade às peças sem que haja aumento considerável de custo. No entanto, para que a qualidade, tanto do projeto quanto da execução, seja garantida é necessário, também, que as normas estejam compatíveis com a realidade prática, tecnológica e sociocultural.
Dentre os métodos utilizados, pode-se destacar o proposto na ABNT NBR 6118:2014 que limita a abertura das fissuras em função da classe de agressividade do meio de exposição, com posterior verificação, por meio de fórmulas empíricas, se a fissuração prevista está compatível com este limite. Algumas medidas práticas também podem ser adotadas, tais como: optar por menores diâmetros de barras de aço que compõem a armadura e, para se evitar a fissuração por retração, promover uma cura eficiente e utilizar um teor de cimento próximo do limite inferior recomendado.
Sendo o aço, no concreto armado, o responsável por resistir às tensões de tração, é essencial que este material possua e seja utilizado com qualidade suficiente para trabalhar satisfatoriamente, limitando as aberturas das fissuras a valores que dependam primordialmente das exigências estéticas. Desse ponto de vista, fissuras com aberturas da ordem de dois a quatro décimos de milímetro não chegam a causar tanto incômodo. O uso de barras nervuradas, também colabora com a diminuição da fissuração, já que possibilita uma melhor ancoragem e a qualidade da aderência é de fundamental importância no processo.
Portanto, percebe-se que a fissuração é um problema que influi no aspecto estético, construtivo e principalmente no que diz respeito à durabilidade da estrutura e que, mesmo não tendo uma solução 100% eficaz, pode ser minimizada quanto à aparência e a segurança. Como a causa original – tração na peça – deriva de outras inúmeras causas, as soluções são as mais diversas possíveis e, dependendo da situação, mais de um cuidado deve ser aplicado para garantir que a peça não atinja seu estado-limite de serviço por fissuração.
De fato, a aplicação do concreto é quase irrestrita e fácil, mas precisa ser feita com cuidado e respeitando as exigências de normas brasileiras, pois os transtornos gerados, inclusive não financeiros, pelas fissuras em uma obra mal projetada e executada podem ser incalculáveis. Neste caso, é melhor prevenir, já que o custo de recuperação de uma estrutura geralmente é muito elevado, de modo que todos os envolvidos, projetistas, construtores e clientes, estejam com o mesmo propósito.
Bibliografia
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Eng. Me. André Luís L Velame Branco Projetista, Professor e Consultor de Cálculo Estrutural
Pela proposta de valor diferenciada oferecida pela ALL VELAME Projetos de Estruturas, existe um amplo leque de potenciais projetos locais e em outros estados e regiões.
Ótimo texto!
Como está descrito no livro de Ércio Thomas, as principais causas de trincas, mas também de fissuras, são:
– deformação excessiva;
– sobrecarga;
– umidade;
– movimentações térmicas;
– recalques diferencias;
– retração do cimento;
– alterações químicas
Além destes, somam-se as ações acidentais provocadas por sismos, incêndios e impactos fortuitos; choques térmicos e o envelhecimento e degradação natural do concreto.
Embora seja um material construtivo amplamente difundido, o concreto apresenta desafios e cuidados na seu manuseio desde a fase da escolha de ingredientes até seu uso. Por isso, como está descrito no texto, o seguimento de normas e medidas que visam a prevenção é melhor caminho a se tomar ao projetar estruturas de concreto.
Um grande abraço, mestre André.
Caro Tiago, obrigado pelos comentários e contribuições pertinentes.
Convido você para que fique atento aos próximos artigos, nos quais comentarei mais detalhadamente sobre o fenômeno.
Grande abraço.