Os resultados apresentados no relatório de sondagem devem ser analisados por profissional qualificado, para garantir sua representatividade em relação ao contexto da obra:
Local da obra: verificar se o terreno em estudo no relatório corresponde ao mesmo terreno da obra.
Número de furos: avaliar se a quantidade de furos é representativa para o terreno e o porte da obra.
a) É possível solicitar mais pontos de sondagem por causa das peculiaridades da obra ou do perfil geológico;
b) Em obras de pequena importância estrutural é muito comum não se respeitar o número mínimo de pontos solicitados pela norma, tornando-se um desafio profissional o convencimento do cliente da necessidade de seguir as orientações indicadas nas normas brasileiras e da realização do próprio ensaio.
Locação dos furos: verificar se a posição dos furos contempla regiões distintas e representativas do terreno, em geral próximas aos pontos críticos da estrutura.
a) Evitar alinhamento de 3 ou mais furos;
b) Espalhar os furos de forma estratégica pelo terreno;
c) Manter distância entre furos de 8 m a 25 m.
Relatório de sondagem: avaliar criteriosamente cada perfil individual de sondagem.
a) Cabeçalho: Verificar se no cabeçalho consta todas as informações necessárias para identificação do (a):
a.1) Furo;
a.2) Cliente;
a.3) Equipamentos;
a.4) Cota do ensaio;
a.5) Operador;
a.6) Data (início e término);
a.6.1) Atenção à relação Operador x produtividade:
P=l/∆t; l-comprimento total de furos e ∆t=(data do último furo-data do 1º furo)
- Produtividade: considerando todos os furos realizados pelo mesmo operador, quantos metros de furo foram realizados por dia?
- Δt: na prática, equivale ao tempo, em dias, que o operador levou para executar todo plano de sondagens.
- A tabela TCPO (PINI) sugere que um operador gasta 1,2 h/metro de furo executado;
- Em média, o mesmo operador consegue furar em torno de 8 m a 12 metros por dia, com qualidade. Acima disso, a qualidade da sondagem fica comprometida;
- O Manual ABEF, 2012, sugere que uma equipe produz em torno de 10 m a 15 metros por dia de serviço:
- Equipe de campo: Sondador (operador), auxiliar de sondagem e ajudante;
- Equipe técnica: Engº Civil Geotécnico ou Geólogo, laboratorista ou técnico em geologia.
a.6.2) A qualidade da sondagem está diretamente ligada à supervisão do processo. Infelizmente, encontramos no mercado diversas empresas que não dispõem de equipe completa e processos de supervisão adequados.
b) Nível d´água: confirmar sua credibilidade por meio da identificação de informações sobre a leitura do N. A. conforme orientação da ABNT NBR 6484:2001.
b.1) Número de leituras: 1 a cada 5 minutos durante 15 minutos, no mínimo;
b.2) Repetir medição após 12 horas;
b.3) Ferramenta (apito): soltar apito no furo que soará quando chocar com a água e medir o comprimento associado ao som do apito.
c) Profundidade do furo: conferir a compatibilidade entre a profundidade do furo e a expectativa de comprimento ou assentamento da solução de fundação prevista;
c.1) Avaliar critério de encerramento, conforme orientação da ABNT NBR 6484:2001.
c.1.1) Critério de lavagem por tempo (impenetrável ao trépano);
c.1.2) Critério de resistência:
- 3 últimos metros, 30 golpes nos 15 cm iniciais;
- 4 últimos metros, 50 golpes nos 30 cm iniciais;
- 5 últimos metros, 50 golpes nos 45 cm do amostrador.
Exemplo: Profundidade de parada 13,10 metros, de acordo com o critério de 4 metros consecutivos com números de golpes maiores que 50/30.
Profundidade | N1 | N2 | N3 |
7 m | 14 | 16 | 17 |
8 m | 15 | 18 | 18 |
9 m | 10 | 12 | 12 |
10 m | 24 | 26 | 24 |
11 m | 25 | 27 | —- |
12 m | 45 | —- | —- |
13 m | 45/10 | —- | —- |
c.1.3) Critério extra permitido:
- Justificativa geotécnica: tem-se como exemplo a situação típica de regiões litorâneas, descrita em REBELLO, 2008, em que as primeiras camadas são de areia, apresentando altas resistências. Porém, ao atravessá-las, encontra-se uma camada de argila orgânica de pequena resistência, ou mesmo nula. Nesse caso é recomendado que a sondagem atravessasse também essa camada mole até encontrar um solo de maior resistência;
- De comum acordo com o cliente: situação muito comum em obras de pequeno porte, quando se estima que o comprimento e a cota de assentamento da fundação serão menores que a profundidade do furo. Não é o ideal, mas muitas vezes é a forma de convencer o cliente a fazer a sondagem.
Bibliografia
ABEF – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES E GEOTECNIA. Manual de Execução de Fundações e Geotecnia – Práticas Recomendadas. São Paulo: PINI, 2012.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo – sondagens de simples reconhecimento com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8036: programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. Rio de Janeiro, 1983.
ALONSO, U.R. Previsão e controle das fundações. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 1991.
BOTELHO, M.H.C.; CARVALHO, L.F.M. Quatro edifícios, cinco locais de implantação, vinte soluções de fundações. São Paulo: Blücher, 2015.
CINTRA, J.C.A.; AOKI, N.; TSHUA,C.H.C.; GIACHETI, H.L. Fundações: ensaios estáticos e dinâmicos. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.
MORAES, M. C. Estruturas de fundações. São Paulo: McGraw-Hill, 1976.
REBELLO, Y.C.P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. São Paulo: Zigurate Editora, 2008.
SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E. Ensaios de campo e suas aplicações à engenharia de fundações – 2 ed . São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
VELLOSO, D.A.; LOPES, F.R. Fundações, Volume 1 – 2 ed . São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
Eng. Me. André Luís L Velame Branco
Projetista, Professor e Consultor de Cálculo Estrutural
Pela proposta de valor diferenciada oferecida pela ALL VELAME Projetos de Estruturas, existe um amplo leque de potenciais projetos locais e em outros estados e regiões.